quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

2008 em 5 Cidades

Eu não sei se resenha de lugar vale. Talvez possa discutir se isso existe, de um ponto de vista bakhtiniano de gênero textual mais tarde, se eu posso resenhar lugares. De qualquer modo...


Campinas, Brasil.



Passei todos os muitos anos em que morei em Campinas reclamando da cidade. Eu a chamava de Fuckingpinas, eu não me conformava com ter voltado de São Paulo em 2002, passei de 1993 a 1997 querendo sair, depois de 2002 a 2006 sentindo a mesma coisa. Não tinha piedade nenhuma com o lugar e achava perdedor qualquer um que decidisse viver aí pra sempre. Hoje eu acho mais ou menos a mesma coisa, e não voltaria nunca nessa vida a morar aí por escolha própria. Mas foi uma cidade importantíssima em 2008: fiz minha última visita antes de partir para a Nicarágua. Foram 15 dias, mas ao final do dia 10 eu já estava louco pra ir embora correndo & gritando.

Eu devia estar aliviado, então. E estou. Mas Campinas acaba sendo a cidade das saudades do Brasil. Aí é que estão as memórias, é onde começa o "era uma vez um Hugo", onde ficou a maior parte da minha família e das pessoas que amo muito. Penso em minha cidade natal sempre. Quando faltavam calçadas em Brasília e aqui em Manágua, onde também falta, eu pensava nos passeios longos entre o Centro e o Cambuí, ou quando eu decidia ir à pé da Vila Nova ao Centro. Aliás, desde 2006 que eu não moro em uma cidade com centro, com prédios, com calçadas cheias de lojas e lugares para sentar e ver o tempo passar, mesmo encontrando as mesmas pessoas de sempre.

O kibe do Papai Salim, o macarrão da Macarronada Italiana, o pão da Itapura, o buffet de chá da tarde da Romana, o café do Fran's, a comida japonesa do Shogun. A livraria simpática da Barreto Leme, o sebo incrível da José Paulino. O Largo do Rosário, o Largo as Andorinhas, o Centro de Convivência, a Unicamp com o Carpe Diem. O que é que eu posso fazer se as memórias mais sólidas de lugar estão aí, nessa cidade chata?


Manágua, Nicarágua.



Em primeiro lugar, Manágua é uma cidade bem feia. Não tem jeito, não dá pra conseguiir um ângulo de fotografia em que a feiúra não fique evidente em algum lugar. É suja, bagunçada, com um trânsito maluco (felizmente lento, ou estaríamos todos mortos), umas pessoas que até agora não deixaram claro pra mim se são minhas amigas ou não. Um lugar estranho, meio desagradável. Todo mundo, até os que nasceram de 1972 pra cá, fala que "se não fosse o terremoto". Eu vejo fotos do passado e dá tristezinha por eles, mesmo, e deve ser terrível viver com este "se" a o tempo todo.

É meu primeiro posto, e é o lugar onde o Carlos fez a primeira individual dele. A gente mora temporariamente aqui e vive bem e contente, de uma maneira geral, ainda que falte esse monte de coisas que minha educação burguesa me fez gostar, coisas como cafés, livrarias e uma boa loja de discos (loja de disco não tem nenhuma, livraria e café tem uns dublês). E apesar de eu não entender as relações humanas muito bem, sei que há gente que é amiga mesmo, e que vai me fazer falta. Esse vulcão enorme ameaçando a cidade todos os dias também vai ser objeto de saudade. Manágua está me marcando, daí sua importância.


Salta, Argentina.



La Linda. Foi a parte 2 da lua de mel. Lá, no Parque Central, que é muito lindinho e cheio de gente não fazendo nada, tem um museu com as múmias de crianças incas, que são criancinhas congeladas, dormindo. Teve também essas crianças vivas que vieram xeretar as fotos que havíamos acabado de revelar e que estávamos colcando no álbum sentados num banco da mesma praça. Uma delas, a menina, me perguntou muito espantada, ao ver uma foto em que eu estava na salina: "tío, ya subiste al cielo??". Tem uma comida ótima, e o lugar Balderrama, onde a Mercedes Sosa já cantou (mas ela é tucumana e não salteña). Aliás, eu sempre sonhei com visitar Salta por causa da Mercedes Sosa, e não sabria explicar por quê. Sei que é muito legal realizar sonhos inexplicáveis, continuar sem saber explicá-los.


New York, EUA.




A cidade mais legal do mundo. Veja filmes, leia sobre ela. Vá até lá. Você vai dizer a mesma coisa. Até hoje tento registrar no diário de papel aqui em casa como foi essa viagem, e não consigo fazer isso sem achar que não estou escrevendo nada melhor que uma pilha de bobagem, de sensações xerocadas. Eu fico querendo voltar e voltar e voltar e voltar, e isso explica tudo, já.



Cidade do México, México.



Pra quem morou em São Paulo e ama São Paulo de paixão, o México DF (eles falam assim, ou falam só "El DF") é uma experiência de reconhecimento. Uma cidade parece a outra, só que é o DF plano na maior parte do terreno. É a maior cidade do mundo, né? Pra quem gosta de cidade do jeito que eu gosto ir pro DF é morrer e ir prum céu de metrôs lotados.

Outro sonho antigo esse, que tinha Casa da Frida e livrarias do Fonde de Cultura Económica como imagens. Só que, estando lá, é muito mais legal qu qualquer coisa que se possa sonhar dessa cidade.





Um comentário:

  1. Anônimo25.12.08

    Você me enganou! Cancun não está aqui! hoho.

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